Núcleo da Rota do Escravo em Lagos

Como Resultado da colaboração entre a Câmara Municipal de Lagos e o Comité Português do Projeto da UNESCO “A Rota do Escravo”, foi inaugurado em 2016 o “Núcleo Museológico a Rota da Escravatura”, um núcleo do Museu Municipal.

Trata-se dum equipamento que se insere na lógica do silenciamento da herança africana e no esbranquiçar do tráfico negreiro em Portugal , em particular da incomodidade que essa narrativa cria na celebrada epopeia que Lagos procura reivindicar como lugar genético.

 

Este equipamento apresenta vários equívocos.

  1. O do lugar  da “Escravatura” em Lagos. Em 1998 foram descobertos na lixeira da cidade medieval as ossadas de escravos, cuja datação se situa como contemporâneos da crónica de Zurara, que descreva a chegada de centena e meia de cativos a lagos. O lugar do “cemitério” tornou-se parque de estacionamento. As ossada tornaram-se objeto de estudo em Coimbra. Na narrativa diz-se que teriam chegado doentes e moribundos, e por isso jogados fora de portas. Este núcleo está fora do lugar.
  2. Apesar de tudo, argumenta-se que o lugar, conhecido como “Mercado de Escravos”, estaria ligado ao comércio: Trata-se de mais um equívoco, este gerado em Oliveira Martins, que o escreveu na sua obra História de Portugal. O atual edifício, dito da Alfândega, oitocentista, dificilmente terá sido o lugar de comércio medieval de escravos.
  3. A sua estrutura de núcleo de museu. Trata-se mais do que uma questão formal. Núcleo de museu é uma estrutura menor. Há um espaço central, neste caso o Museu Municipal José Formosinho, uma personalidade local que nos anos trinta inicia o coleccionismo na cidade. Numa das sua secções, etnografia ultramarina (sic) retirou-se alguns dos objetos agora usados neste novo núcleo. juntamente com o Núcleo Museológico do Forte do Pau da Bandeira, onde estaria localizado o cais marítimo, a cidade de Lagos propões uma rota do escravo. Ou seja não só se trata dum espaço subordinado ao museu municipal, como, e isto é o mais relevante o núcleo museológico não dialoga com a contemporaneidade, a não ser numa experiência urbana, de sei pontos. E o grande equívoco deste museu, é que nesta configuração, sem diretor, nunca dialogará com a contemporaneidade.
  4. A sua morfologia interna, dividida em dois espaços que não comunicam entre sí, onde no piso térreo de compra bilhete, para duas salas no primeiro piso, de acesso exterior. Trata-se duma solução que se torna num equivoco, porque não é mais do que a concepção de dois espaços expositivos, ligados por uma narrativa, que assim menoriza a questão.
  5. A sua expografia, é um caso classico de equivocos na museografia portuguesa ao sul. O de se centrar nos objetos. A iconografia deste objetos inserido em plintos negros, que emergem no interior do espaço, ocultam mais do que revelam. só são observados num única perspectiva. são meras imagens decorativas duma narrativa, completados por uma legendagem sem contraste.
  6. Erros e equívocos. No final, uma tentativa de olhar o espaço da lusofonia a partir duma narrativa sobre o tráfico negreiro. Aqui e acolá a informação ora se refere ao mundo atlântico, ora procura o discurso global. Nunca aborda a natureza imperial e colonialista do tráfico. Ignora, por exemplo lugares de escravatura na Lusofonia. O Brasil é apenas da Bahia. Moçambique a Ilha e Maputo (?). Nada sobre os lugares. No Rio, em Porto Alegre, em Maranhão, no Parnanbuco, no Ibo e em Quelimane, na Cidade Velha, em Goa, para penas falr em alguns lugares que hoje são conhecidos.

Sucessão de equívocos para uma questão que continua em aberto: o de que criar uma narrativa sobre o tráfico negreiro no Império Português é indissociável da criação duma narrativa sobre a natureza do seu processo de hegemonia social.

 

 

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