Galeria da Arte Pública da Quinta do Mocho

A Galeria de Arte Publica da Quinta do Mocho em Sacavém – Loures

O Bairro da Quinta do Mocho surge no final dos anos sessenta, numa quinta denominada, Quinta do Mocho, em Sacavém, ocupada por uma das urbanizações J. Pimenta.

A partir de abril de 1974, na sequência da Revolução Democrática em Portugal e da emergência do Direito à Habitação, a urbanização, ainda inacabada, é ocupada por comunidades africanas que chegam a Lisboa.

João Pimenta, um empresário de 40 anos, era um empresário da construção civil que promovia a construção de habitações a baixo custo para as classes populares nas zonas periféricas de Lisboa.

A Quinta e as suas casas inacabadas criaram uma área de grande insalubridade e as suas populações, marginais nas sociedades, eram hostilizadas pelas populações locais.

No final dos anos 90, o programa de regeneração urbana na zona Oriental de Lisboa e os programas de infraestruturas a ele associadas leva ao realojamento do bairro na sua atual localização, através da construção de casas de habitação precária. O bairro manteve a sua denominação original.

Na altura a Câmara Municipal de Loures, e duas assistentes sociais Ana e Cristina, acompanharam o realojamento das comunidades, e nas imediações foi construído um Centro Cultural de Sacavém, onde, para além das funções culturais, se instalaram funções de assistência social.

As primeiras pinturas surgem em 2013. O processo tem origem num processo de aproximação da autarquia local às pessoas. Foram na altura realizadas várias assembleias comunitárias, e nelas emergiu a ideia de contar história do mocho. A história do bairro através da pintura e da abertura do bairro à comunidade envolvente. O mau nome continuava a estigmatizar os habitantes do bairro.

O programa da autarquia, “o bairro e o mundo”, apoiado no trabalho voluntário dos habitantes locais foi desenvolvendo diversas atividades no bairro e expandiu-se para outras áreas de Loures, onde hoje é dinamizado o “Festival Loures Arte Pública”[1]

Quico é um dos voluntários do bairro que acompanha as visitas, que se realizam no último sábado de cada mês. Na sequência das várias visitas, pode-se degustar uma refeição de sabores africanos na rua.

A Galeria de arte urbana da quinta do Mocho é dinamizada pela Câmara Municipal de Loures através do convite efetuado a artistas urbanos, que efetuam o trabalho de forma voluntária, sendo que a CML fornece os materiais e suporta as estadias.

Até 2017 foram pintadas 342 obras nas fachadas dos edifícios e em lugares públicos de todo o concelho. O programa desenvolve também uma atividade de arte pública em autocarros “Autocarros com arte urbana”

O movimento grafiteiro em Portugal é recente. No seu início era uma atividade marginal, e os grafiteiros atuavam durante a noite. A atuação podia ser individual ou de grupo, tinha objetivos definidos e implicada a preparação dos elementos pictóricos. Na Galeria de Arte Pública da quinta do Mocho estão representados vários dos melhores grafiteiros do mundo.

O Nomen, o primeiro grafiteiro em Portugal era desconhecido e atuava durante a noite. Na arte pública urbana, nos grafitis distinguem-se o lettring da picture. O primeiro corresponde a uma assinatura ou a uma marca incisiva, enquanto a “picture” ilustra uma situação associada a uma ideia.

Uma das primeiras pinturas feitas na quinta do mocho foi a mascara. A pintura está associada ao estigma que os moradores da quinta do mocho sofriam, pela sociedade saber a sua origem. Um processo que atualmente se encontra em mudança.

Uma das curiosidades da Quinta do Mocho é o mural de Artur Bordalo, ou Bordalo II, porque neto do Rafael Bordalo, feita de recuperação de ferro-velho. Conta-se na Quinta do Mocho, que quando Artur vez descarregar todas as velharias na rua do bairro, os moradores acorreram, a informar que ali não era o ferro-velho, que o poderia fazer mais longe. Quando viram a figura do pelicano a nascer, foram os próprios moradores que lhe trouxeram mais material.

Odeith – Sérgio Odeith, e Vihls – Alexandre Farto, são outros dos grafiteiros que se pode encontrar na Quinta do Mocho. Esta é uma outra característica desta arte urbana, o seu caracter de autor.

Na Quinta do Mocho, a iniciativa das pinturas é dos poderes públicos. Apesar de tudo, os grafiteiros quando convidados a desenvolver as suas obras no espaço urbano, têm a liberdade de escolher o lugar onde querem pintar, e o tema que pintam. Por regrar trazem uma ideia, mas é no dialogo com o bairro que a maioria das pinturas ganha consistência. As obras na Quinta do Mocho ganham assim uma relevância acrescida, por se conectarem com um contexto social.

Há também casos em que os autores procuram os contributos da comunidade local. Por vezes trabalham com as escolas locais para promover a sua pintura e dialogarem com os mais novos

A arte pública urbana através dos grafitis começou por ser uma arte marginal. Há várias discussões sobre as suas origens, desde as pinturas murais na sequência da Revolução Mexicana em 1910. No México, ganharam fulgor na sequência do movimento muralista de Diego de Rivera e durante a revolução russa, em 1917. Na europa ocidental o movimento teve alguma expressão no cubismo e nos anos sessenta, ganha relevância na sequência das discussões sobre a função social da pintura.

Há ainda quem recue a discussão sobre o muralismo aos frescos romanos, que se mantiveram durante toda a idade média, atingindo o seu esplendor nos trabalhos de Miguel Ângelo na Capela Sistina em Roma. Haverá ainda a discussão sobre a chamada “arte rupestre”, em cavernas, mas que pouco nos adiante na discussão sobre a carater público e de educação popular que queremos relevar.

A questão da arte contemporânea através do mural em espaço público ou privado, é uma forma de expressão na arte contemporânea que procura tornar a arte acessível ao público e modificar a paisagem através da construção duma narrativa contemporânea. Resulta das iniciativas públicas ou privadas e contempla ações de atores culturais e políticos.

Quando é feita é espaço urbano, como intervenção urbana, procura promover a transformação ou produzir uma reação emocional ou cognitiva. Pode presentar uma multiplicidade de expressões e linguagens., adaptada ao contexto artístico e cultural. As intervenções de arte pública podem ser efémeras ou permanentes.

As intervenções efémeras estão mais ligadas a eventos ou a ações espontâneas, ao passo que as intervenções permanentes estão mais associadas a processos de intervenção urbana, de requalificação ou revitalização urbana, como é o caso da Quinta do Mocho. Algumas experiências foram feitas em antigos espaços industriais, para renaturalizar a paisagem, os Landshcafpark (Parques de Paisagem) ou como intervenções efémeras, feitas com elementos da natureza, para chamar a atenção para questões culturais da atualidade.

Em alguns centros históricos, a arte pública, pode ser usada para revitalizar e transformar. Tem sido muitos os casos onde as intervenções de criação de hubs criativos são iniciadas através da criação de arte pública, procurando definir paisagens urbanas em torno das quais de agregam atividades, em processos de co criação

Algumas das intervenções de arte pública efémeras começam também a surgir em espaços urbanos em transformação ou em eventos culturais, através de ações que se destinam a expressar um momento.

Galeria de Arte Urbana